sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Lamento


Eu lamento o Sol que se vai indo
Que se embranha e se perde
Nos vãos das silhuetas dos prédios da cidade

Eu lamento
Esse vento gelado, as botas das moças, as blusas, as pessoas dentro dos carros

Eu lamento

Eu lamento os peixes frios na vitrine,
De bocas abertas, engastados no gelo

Eu lamento os homens de uniforme que lavam as calçadas, os taxistas, os guardas

Eu lamento as bitucas desprezadas, os papéis de bala

Eu lamento essa fumaça que a gente traga
E expira

Traga
E expira

Traga
E expira

Eu lamento essa névoa cinza que a gente exala

Eu lamento essas mãos no bolso
Esses olhares de infinito

Eu lamento os vidros da loja
Os toldos da lanchonete
Eu lamento os olhos claros da balconista
Os postes na calçada

Eu lamento em silêncio
Como se eu mesmo fosse lamentável

Eu lamento
Como quem canta um salmo