Eu lamento o Sol que se vai indo
Que se embranha e se perde
Nos vãos das silhuetas dos prédios da cidade
Eu lamento
Esse vento gelado, as botas das moças, as blusas, as pessoas dentro dos carros
Eu lamento
Eu lamento os peixes frios na vitrine,
De bocas abertas, engastados no gelo
Eu lamento os homens de uniforme que lavam as calçadas, os taxistas, os guardas
Eu lamento as bitucas desprezadas, os papéis de bala
Eu lamento essa fumaça que a gente traga
E expira
Traga
E expira
Traga
E expira
Eu lamento essa névoa cinza que a gente exala
Eu lamento essas mãos no bolso
Esses olhares de infinito
Eu lamento os vidros da loja
Os toldos da lanchonete
Eu lamento os olhos claros da balconista
Os postes na calçada
Eu lamento em silêncio
Como se eu mesmo fosse lamentável
Eu lamento
Como quem canta um salmo