quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Silencie


Envolva-me
Como o ar
Que a tudo envolve
Bem como envolve a si mesmo
Posto que não é diferente de tudo

Possua-me
Como possui a vida a cada ser vivente

Bem como cada ser tabém a possui
Mesmo que cedo ou tarde esta os deixe
E parta, ou deixe de ser, não se sabe bem ao certo pra onde, nem como

Beije-me
Antes que vãs palavras saiam de nossas bocas
Bocas humanas não são absolutas em nada que dizem
Mas dizem

Beije-me
Mesmo que seja findo todo o beijo
E que após, e antes, dele sempre hajam palavras
Mesmo que todo beijo seja contaminado de palavra

Silencie
Mesmo que silêncio algum seja pleno
Mesmo que o ar nunca seja estático

Mesmo que o ser, enquanto vivente, nunca cesse
Mesmo que a alma nunca cale

Silencie

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Lúbrico




Quem me dera se um beija flor eu fosse
Desse um beijo na cândida flor de ébano
Flor lânguida do bico de teu peito
E no vale do seio adormecesse


Quem dera se meu nome pronunciasse
A tua boca, convulsa, intercalando
Sílabas por entre gemido e beijo
Entre súplicas e compunção latente.


Tuas firmes mãos a agarrar meu cabelo,
Impenitente e dolente, teu corpo
Cálido em ânsia febril envergasse.


Em fértil seara sem espantalho
Eu, pássaro louco, vôo em desvairo.
Áh! Quem me dera se eu te possuísse.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Parto


Que eu veja ainda o Sol
Que antes de partir
Ele ainda me queime
Que antes eu ainda, descalço
Pise na grama a protestar

Que eu ainda sente
Antes que tenha de andar
Que ainda chore e ria
Antes que tenha de rir e chorar

Que eu ainda tente

Que antes eu sinta ainda
A ânsia de te ver
De ter ou de ser
De vomitar
Sinta ainda a dor
De partir, o desejo
De nunca chegar

Foz



Passar
Fluir


Como a água da chuva na calha
As do ribeiro no vale
As correntes do mar


Fluir
Passar


Tudo é passagem, tudo é flúido, efêmero
Mudança, trâmite, manar, correr


Para a foz, para o mar


Oceano ...